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HominisCanidaee - Entrevista Nelson Barreto (o Amnese)…

Amnese é um termo grego para alguma coisa relacionada a memória (mnesis), acredito eu que o A tenho sentido de negação no alfabeto grego, mas isso não é importante agora. Porque Amnese também é o pseudônimo adotado pelo violonista, compositor e cantor Nelson Barreto para nomear sua banda fictícia criada em 2003. Sob a alcunha de “Amnese” lançou três álbuns e dois Eps, sendo revelado apenas em seu trabalho mais recente, “Sofia e a curva do céu”, que Amnese como banda não existia. Em todos os trabalhos anteriores, o trabalho de composição, gravação e execução das canções havia sido dividido com outras cinco pessoas que nunca existiram.


A Amnese faz música experimental com o emprego de instrumentos acústicos de forma não usual na tentativa de mesclar diversas influências de rock alternativo, lo-fi, rock progressivo e pós-rock. Todos os discos do Nelson, com o pseudônimo de Amnese foram lançados virtualmente pela Sinewave e estão disponíveis pra download no HominisCanidaee.


O último trabalho do Nelson “Sofia e a curva do céu” entrou na lista dos 50 discos nacionais mais relevantes da primeira década deste século, feita pelo pessoal do HominisCanidaee. Na época da lista, o Thiago escreveu o seguinte “Sofia e a Curva do Céu é uma verdadeira obra prima. Contando com um instrumental de dar inveja, o cd é baseado na literatura de Friedrich Nietzsche, o qual narra a história do “Egoísta” que após fugir do mundo, busca entendê-lo no alto da “Curva do céu”. Esse foi sem dúvida um dos melhores discos nacionais de 2008 e figura com méritos na lista...” E por isso, achamos interessante fazer uma entrevista com o pai da banda fictícia e projeto experimental, o Nelson Barreto...


1. Por que houve a criação do Amnese como banda inicialmente, com personagens fictícios e não como é hoje, um projeto musical de Nelson Barreto?

Ok, melhor pergunta do que essa para começar não teria que haver mesmo. A resposta mais sincera é que não sei muito bem porque inventei essa história, meio que aconteceu, não foi assim tão premeditado quanto pode parecer. Lembro que tinha gravado o Songs em 2003, à época em que me mudei para Campinas, morava sozinho, passava muito tempo reservado e tinha gravado umas músicas no computador. Alguns amigos pediam para ouvir, colocava apenas o meu nome lá, só que não me sentia muito confortável com isso. Boa parte eram versões de músicas que havia composto para a minha banda Empty Eyes, que veio a acabar no final daquele ano. Quando a EE terminou, resolvi postar essas músicas na internet. Primeiro postei sob a alcunha de Teardrop, por causa da canção do Massive Attack, e logo em seguida de Amnese já com as personas. No fundo era mais uma questão de esconder a autoria mesmo, ou então de tornar o trabalho um pouco mais palpável, menos ficto, menos impossível.


Acontece que depois de criar a idéia, eu terminei gostando e a levei um pouco mais a sério durante a gravação de Apatheia. Foi nesse álbum que as personagens tiveram uma função que foi a de me esconder, de fato. O álbum tratava de um assunto delicado a mim, uma homenagem póstuma extremamente íntima e trágica, e quanto eu mais escondesse a verdadeira autoria e inspiração, melhor me parecia naquele momento. Passado isso, com Sofia e a curva do céu, já não mais me parecia ter sentido continuar essa história, e ai sim, de forma premeditada, encerrei esse pequeno conto. Compreendí que não mais fazia sentido isso quando da gravação do Zumbis, então, iniciei a planejar como seria o fim da farsa para o lançamento posterior.


2. Como surgiu a idéia do projeto musical?

Nunca houve uma idéia para surgir, tudo simplesmente aconteceu. Como citei brevemente na resposta anterior, eu tocava na Empty Eyes, e era o compositor dela. As primeiras gravações surgiram como extensão desse período, pegava as músicas que havia composto para a banda e fazia algumas versões acústicas das mesmas, isto para contrastar com o som original que era extremamente sujo. Tempo atrás encontrei uma versão de Void (the dark song) gravada com a banda em algum ensaio, e nossa, era muito diferente, sujo, distorcido, com gritos, outro clima, completamente diferente.


Por isso eu não gosto muito da palavra “projeto”, nunca vi Amnese desta forma. Nunca houve um planejamento, um objetivo, as coisas simplesmente foram ocorrendo, por isso, a verdade é que Amnese não é um projeto, é algo mais concreto para mim, é uma realização e não uma projeção.


3. As pessoas próximas a você sabiam desde o início que os outros membros da banda nunca existiram?

Não sei precisar muito bem quantas pessoas sabiam ou não. Lembro que à época do Songs levava isso mais na brincadeira, do tipo, “será que alguém algum dia vai se tocar que na verdade eu estava sozinho ali?”. Já no Apatheia eu fiz mais questão de me manter anônimo, e as personagens era um bom escape para isso. Posso dizer que irmão, namorada, alguns poucos amigos e o pessoal que tocava na EE sabiam da história, inclusive o Pedro Raspado que também era da EE participou tanto do Apatheia quanto do Sofia. Mas em geral a verdade é a maior parte dos meus amigos hoje sequer sabe que eu sou Amnese, boa parte nem imagina que eu passo noites gravando, outros mal sabem que eu sei tocar algum instrumento. É estranho como eu consegui manter certo anonimato mesmo em tempos de privacidade tão escancarada. Às vezes eu gosto de pensar que é minha identidade secreta. O legal é que ter certos segredos, muitas vezes faz bem, é interessante viver com algo a esconder, ajuda a manter o meu interesse.


4. O que é de fato o famoso apartamento 136?

Bom, essa simples: excetuando um período em que morei na Espanha é onde eu moro desde que vim para Campinas em 2003 e, por consequência, aonde gravei a maior parte dos meus trabalhos.


5. Até onde o curso de filosofia influenciou seu trabalho com a música?

Então, na verdade nunca cursei Filosofia, terminei fazendo uma faculdade um pouco menos interessante, mas com um pouco de filosofia no currículo. O fato é que eu gosto de Filosofia, mas a sua influência se restringe ao Sofia. Songs é pura aborrecência, músicas que compus quando tinha entre 15 e 17 anos, simples assim. Apatheia é morte, sem metáforas, sem divagações ou grandes reflexões, Apatheia é morte. Sofia é filosofia, por si só. Estava impregnado por Nietzsche nesse período devido ao meu trabalho de conclusão de curso, que relacionava o filósofo alemão com alguns pontos específicos do meu curso, então a influência aconteceu pelo simples fato de que entre 2007 e 2008 minhas leituras se resumiam a livros dele.


O que pouca gente sabe é como Sofia começou e talvez isso explique muita coisa. Em janeiro 2007, em uma viagem de ônibus, amanhecendo um céu de azul bem claro, me veio a cabeça o nome “Sofia na curva do céu”, que depois virou Sofia e a curva do céu. Todo o resto, músicas, letras, temas, veio tudo depois. Sofia foi o disco que surgiu pelo título, todo o resto foi uma tentativa de escrever um trabalho para o qual pudesse dar este nome.


6. Nas letras você esbarra em uma poesia fora do comum. Isso é natural ou requer muita reflexão e rascunhos?

Engraçado isso, nunca ninguém me havia questionado a respeito das minhas letras. A verdade é que não sou poeta, não leio poesia, e muito provavelmente, se não tivesse o amparo da harmonia da música, sequer conseguiria manter a métrica de uma letra. Não posso dizer que é natural, como se pegasse um papel e a letra saísse inteirinha, mas também nunca refleti muito para escrever algo. As letras sempre vieram por último, depois das canções. Em Sofia, a primeira canção a ter letra foi O egoísta e a fuga e a última, ao contrário do que pode se pensar, O dia em que resolvi sumir, ambas saíram com muito facilidade, talvez a última até se encaixe no mais próximo ao natural, já que foi feita no exato momento da gravação. Já Aonde se dobra o céu, puta que pariu, foi difícil pra cacete dizer o que eu queria nela, e nem sei se consegui muito bem.


Agora o que sempre foi muito bem pensado, tanto em Apatheia quanto em Sofia, é o tema a ser tratado e a linearidade da história, muito mais do que as letras em si, que no final apenas se tornaram a materialização das idéias anteriores de que eu teria que ter uma canção em determinada posição do disco que tratasse disso ou daquilo.


7. Existe alguma chance do projeto amnese virar banda e rolarem shows ao vivo?! Ou isso nem passa na sua cabeça?!

Houve uma época em que pensei nisso, e pensei muito, mas hoje posso dizer que não há qualquer chance de isso vir a acontecer. Amnese nunca poderá ser uma banda, pois se fosse, já não mais seria Amnese. Hoje eu entendo que Amnese sou eu, e me considero indivisível. Mas isso não exclui a possibilidade de um dia eu montar uma banda, e até tocar uma ou outra música da Amnese, mas não muitas. Amnese vai ser sempre assim, mudar não teria sentido, e como uma banda não seria mais Amnese, não consigo dividir isso com os outros.



8. O álbum Sofia, veio com alguns videos no youtube, quem fez os videos e como se deu a idéia de realizar tais registros?!

O primeiro vídeo veio ainda com Apatheia, para a canção Memento Mori e havia sido creditado a um dos personagens, apesar de ser meu. Se tratava de algumas imagens que gravei em uma viagem de Campinas à Minas Gerais. A repercussão desse vídeo foi legal, algumas pessoas conheceram Amnese através dele, por isso, seguindo a mesma idéia, fiz a montagem para dois vídeos do Sofia com imagens que fiz na Colômbia e no Peru, quando estive a visitar alguns amigos por ali. A idéia de fazer os vídeos foi a de divulgar a música através de uma mídia diferente, combinando a músicas às imagens.


9. Este álbum novo que está gravando, fale um pouco sobre ele: influências, o que será retratado, "pegada" e o que mais achar necessário.

Ah, o álbum novo. A primeira coisa que posso dizer é que ao contrário do que aconteceu com Sofia, este álbum não se iniciou pelo título, pois não existe um para ele. Compus algumas canções e estou trabalhando na gravação de três delas, todas instrumentais, por enquanto, o que não necessariamente significa que não possam vir a ter letras um dia. Mas o fato é que ainda não tenho uma história a ser contado, e sem uma boa história, um disco não vale a pena. Tampouco sei quando ele estará pronto, é impossível prever, principalmente sabendo que sempre demoro um pouco a gravar.


Mas tudo está ainda tão no começo, que fica difícil dizer o que pode sair disso. Eu acho que cada vez termino me aproximando mais do rock progressivo, mas não necessariamente estou gravando um disco de prog. Nesse tempo depois de Sofia, musicalmente conheci muita coisa diferente, mas isso por si só não garante que haverá uma nova influência no meu som. Eu não consigo controlar isso, e até prefiro que seja assim, melhor gravar aquilo que vêm a mim do que forçar algo que eu não sou para que se pareça com algo que já tenha dado certo antes.


Eu não quero regravar Sofia e a única coisa que espero, ou tento, é conseguir ir além da Curva do céu dessa vez, se não, não teria sentido continuar a gravar.


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HominisCanidaee - Entrevista Sérgio Ugeda e Cláudio Duarte (banda Diagonal)...

Aqui vai uma opinião pessoal. Um dos lances mais legais de ter um blog sobre música é a troca que acontece entre bandas, musicas e nos do blog. Eis que um dia, ao abrir o email do HominisCanidaee me deparo com um e-mail de Sérgio Ugeda agradecendo por termos disponibilizado os discos da Diagonal pra download. Como estavámos fazendo esta série de entrevistas, caiu como uma luva. Dai ele resolveu colocar o parceiro dele de banda Cláudio Duarte na parada e deixou a entrevista mais legal ainda...

Sérgio Ugeda é uma figura bastante relevante na música independente nacional. Produtor (Tronco Produções), ex-dono de selo independente (Amplitude), musico que passou por diversas bandas e entusiasta da música nacional experimental. O mesmo pode ser dito do Cláudio Duarte que ja teve várias bandas independentes (intense manner of living, Maqno, Page 4), vamos as palavras...
1ª Formação da diagonal

"Antes de mais nada, eu me sinto muito mais confortável com a presença do Claudio em qualquer entrevista sobre o Diagonal. Eu conheci o Claudio em 97 como fã da única banda de São Paulo que causava em mim tal efeito, o de ser fã. Era o Page 4. Ir aos shows do Page 4 mexia comigo pois já há algum tempo eu ia a shows mas esta foi a primeira banda que me inspirou a realmente querer FAZER shows em função da música desafiadora que eles faziam. Conhecer as influências e ouvir o que o Page 4 fazia em suas próprias músicas foi sem dúvida um dos motores que me impulsionaram em direção da música enquanto prática."

1. Pra começar, quais são suas influências musicas?! Não so no Rock, mas no geral?

Claudio > No rock? Jawbox, Fugazi, Gang of Four, The Ex, The Clash, Sonic Youth... mas escuto de tudo um pouco, com algum critério, pois só assim se consegue desasnar o ouvido. Um teorema meu: uma boa experiência musical só pode vir junto à experimentação do campo das artes em geral. Tal como um escritor só é bom quanto mais leu diversos autores e estilos de diversas épocas, incluindo sua experiência artística num amplo sentido, um músico e uma banda só são bons se tiveram acesso a uma ampla discoteca, pensando e vivendo a arte, o cinema, o teatro etc., mergulhando de cabeça no campo das artes em geral.

Sérgio > Eu sempre fui apaixonado pelo classic rock. Pelo Led Zeppelin, especialmente. A ponto de conseguir gostar de verdade e sem vergonha de bandas como o Rush. Faz parte do que eu também chamo de ouvir de tudo. Dentro do Diagonal o "choque de influências" sempre determinou a estética adquirida nos dois discos.


2. Estava tentando lembrar aqui, mas esclarece ai. De quantas bandas voce fez ou faz parte ao longo de sua carreira de musico?! Eu lembro da Diagonal, Debate, sei que tocou com a hierofante mais recentemente, quais mais?!

Sérgio > Eu assumo música como interação social. Um meio de conhecer pessoas. Mais recentemente toquei, sim, por alguns meses com o Hierofante Purpura e foi um enorme prazer por admirar as músicas deles. Isso aconteceu pois o guitarrista deles viajou para a Europa e através da agência de shows da minha ex-namorada eles tinham algumas datas marcadas - e, mais importante, queriam continuar a fazer shows ininterruptamente. Mas banda mesmo… Eu tenho o Debate. Eu e o Claudio estamos compondo músicas que em breve vamos lançar. Mas a minha única banda é o Debate.


3.Vocês tem noção do quanto a Diagonal foi influente no Rock nacional?! Inclusive em bandas atuais?! Digo isso porque membros de bandas como Calistoga, O jair Naves, etc., se dizem influênciados. Voces imaginavam que a banda causaria tanto estrago?!


Claudio > Sério? Não tenho muita essa impressão. Até pelo contrário, tenho a impressão que o Diagonal é bastante desconhecido e não tem nenhuma ou muito pouca influência. Esses dois discos são audíveis até hoje - mas nunca fizemos tanto show para divulgá-los.

Sérgio > Honestamente, não tenho noção. É uma surpresa genuína e muito gratificante ler suas palavras e por vez ou outra encontrar alguém que concorde com você. Sempre me deixou muito resignado, como o Claudio mesmo colocou, que como banda nunca tenhamos feito todos os shows que poderíamos ter feito. As circunstâncias nas vidas de todos nós como integrantes e até mesmo uma boa dose de, como escrevi há pouco, falta de noção sempre afastou o Diagonal da possibilidade de perceber as pessoas.


4. Qual sua opinião sobre o download?! ja que voce alem de musico tambem ja foi dono de selo?! Como voce vê o download e qual a importancia dele na musica indepedente?

Sérgio > A minha opinião é simples: O download é o meio mais popular de consumo e nunca houve qualquer paralelo considerando outros meios que possa ser encarado como equivalente. Muitas vezes enquanto mantive a Amplitude funcionando as pessoas vinham comprar discos em um show e, diante da "baquinha", pensavam em voz alta "ah, vou levar só esse porque esse outro já baixei" ou ainda um amigo ainda respondia "ah, nem precisa que eu já baixei esse e te passo". O download é um problema? Não, realmente. A razão daquelas duas pessoas terem ido ao show na verdade se deve ao fato de que fizeram o download da música que gostaram e foram até ali para assistir ao vivo. Eis como o download é, de fato, importante. A questão me parece ser o consumo em si. Não estou falando do raciocínio raso do sujeito que diz "ah, mas se eu gosto eu compro" mas, fundamentalmente, de estrutura. Porque não há dinheiro algum circulando em nada e nenhum lugar, como os artistas devem se organizar para existirem? Não é uma resposta fácil. Muito menos uma defesa das gravadoras.


5. Voce ainda acredita no formato do trabalho fisico?! Cd, EP, LP?! Por sinal, qual seu formato preferido para lançar a musica?!

Sérgio > Eu gosto do CD. De verdade. É um formato democrático - e que, afinal, justamente por ser a primeira mídia digital permitiu a cópia e compressão. No final, você FAZ um CD se você quiser. Você não faz um LP em vinil no seu computador. Eu ainda compro CDs, sempre pela internet e em uma escala acessível para o bolso. Compro LPs quando sou fã de determinado disco por procurar a referência específica que só o analógico oferece. EPs são importantes desde que a banda e/ou artista reconheça estrategicamente sua função diante do seu próprio processo de produção artística. Um exemplo típico de consumo: vi na semana passada um show inacreditavelmente bom de uma banda canadense chamada DD/MM/YYYY. Ao final do show, eles vendiam CD, LP - e CASSETE!!! - comprei tanto o CD quanto o LP. Já escutei várias vezes o CD mas não ainda o LP. Por que? O LP demanda um certo tipo de reverência. Você pára e escuta música. Eu ainda não tive tempo para reverenciar a música deles deste jeito, no meu quarto, com calma. Mas peguei o CD e deixei no carro. Antes disso, joguei as músicas para o computador. E… É assim, hoje é assim.


6. Ainda existe espaço pra selos independentes no país?! O que se vê são selos trabalhando como agentes de bandas e etc, como voce vê essa transição?!


Sérgio > A transição começou quando não se fala mais em selos e sim em agências. O show é o produto aqui no Brasil e em qualquer lugar do mundo. Selos sempre precisam de distribuição e as opções de distribuição nacional nunca foram animadoras. Acho que cada vez mais vamos ver bandas auto-gestoras. O resultado musical poucas vezes me impressiona - pois, na minha opinião, as bandas sempre procuram algum tipo de adequação, algum tipo de "criatividade bem referenciada".


7. Tendo participados de tours no Brasil e no exterior, voce vê realmente muita diferença entre as tours?! Quais as bandas mais relevantes com a qual tocou nessas tours?! Lembro que alguém da Diagonal/Debate tocou com a Faraquet...

Sérgio > Minhas bandas norte-americanas favoritas que ajudaram o Debate nas turnos são o We Versus The Shark, Calumet-Hecla e o Low Red Land. Todas bandas pequenas em notoriedade mas poderosas ao vivo. O Faraquet, na verdade, veio para o Brasil em outras circunstâncias e quem tocou com a própria banda foi o Richard, baterista original do Diagonal. Tocar nos EUA e tocar no Brasil - bem, tocar em qualquer lugar fora do Brasil, realmente… - tem toda uma diferença. A diferença tem a ver com respeito. No exterior, todos respeitam alguém que vai tocar música. Se esta pessoa ou banda tocar uma música que agrade, todos tem respeito pelo quanto isso está custando e apóia de todos os jeitos - já ganhei cesta de frutas, uma nota de 100 dólares em pura doação… Mas, acima de tudo, o respeito que eu ganhei tocando fora do Brasil é muitas vezes incomparável.

Debate em Ribeira Preto (Groselha Fuzz, 26/09/2008)


8. Voce me disse que a Debate ainda tem música pra queimar. A banda ainda existe, é isso?! Qual seria a formação?! Quando sairia um novo trabalho?!

Sérgio > Não há uma formação fechada ainda. Estou tocando com dois amigos, pianista e baixista. Estamos trabalhando em músicas sob uma abordagem 150% diferente do que fiz anteriormente com o Richard, o Ian (1º baixista) e o Marcelo (2º baixista). Certamente ainda este ano vamos voltar a fazer shows e lançar o que será o 1º disco da banda. Tem sido uma das minhas melhores experiências criativas, estou muito satisfeito de estar delineando algum tipo de continuidade para o Debate.


9. Pra finalizar, agradeço pelo tempo cedido e peço para falar um pouco do que anda fazendo agora. Tocando com quem?! Produzindo quem?! Manda a ideia ai pra quem acompanha seu trabalho nas diversas bandas da qual fez parte...

Claudio > O Diagonal talvez volte esse ano, já temos umas 30 músicas em formato demo-tape, esperando para serem lapidadas e gravadas.

Sérgio > Pois é. Eu e o Claudio voltamos a compor há um ano e temos vontade de fazer novas músicas com o Diagonal. Ainda é uma questão em aberto exatamente como. Estamos nos concentrando no desafio de nos encontrarmos com organização para finalizar tudo. Quanto à produção de terceiros, finalizei há cerca de um mês EPs do Some Community e do Refluxo - banda atual do Marcelo que tocava comigo no Debate. E o próprio Debate, como já disse acima, logo vai mostrar novidades também.

Obrigado pelo interesse e espaço, abraços.

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Como foi o Lançamento Natal Rocks 2!






COBERTURA LANÇAMENTO DA COLETÂNEA NATAL ROCKS VOLUME 2


Com perigo de chuva afastando os mais incautos, no lançamento do segundo volume da compilação Natal Rocks Volume 2 – o título já diz quase tudo! – o que se viu ainda foi um bom público por volta de uma centena de almas roqueiras para prestigiarem cinco bandas do cenário potiguar. Aqueles que lá estiveram, foram ao local escutar rock. Ponto final.

Lá pelas onze, os AUTOMATICS iniciam a noitada com o guitar rock de sempre, com o meu pedal delay não querendo ligar, mas depois de umas negociações noctâmbulas voltou a funcionar. Show curto, cinco canções, nenhuma novidade, retorno de voz sumindo ao longo do show devido ao volume guitarrístico subindo paulatinamente e depois mais alguns cd’s vendidos na banquinha.



Em seguida, veio o quinteto CALISTOGA, retornando de São Paulo em pequena embora bem sucedida turnê de duas semanas. Som alto para variar, intróito instrumental e depois o espaço começou a encher de pessoas interessadas em ouvir uma das bandas mais barulhentas do RN. Tocaram uma nova, concentraram-se nas faixas dos dois últimos EP’s e ainda interagiram com a plateia, pois o show era curto e eles tinham que reduzir o repertório. Ganhou “Get together”. De novo, aquela barulheira no final.

Na sequência, o DISTRO fez talvez sua última apresentação antes da ida definitiva de Rafaum Costa (guitarra/vocal) para Mossoró. Calma lá, pois o grupo não vai acabar.

Rafaum vai para abrir em maio o Centro Cultural Quintura lá em Crater City. Mais um lugar roqueiro fazendo a ponte imaginária entre Natal e Fortaleza. Quanto ao Distro, os mesmos riffs hard rock sob influência power pop à la Hoodoo Gurus, só que desta vez com menos paradas entre as canções, o que agilizou a apresentação do quarteto. Destaque para “The death is waiting for you”.

Para finalizar, já que os BUGS – recém chegados do bom show no Abril Pro Rock – não puderam tocar por motivos paralelamente idiossincráticos (alô, produção! Alô, bandas! Informação vira ruído facilmente. Nada como um cronograma rígido para sanar adversidades), entra um dos novos nomes da nova safra potiguar, os BLINDERS THAT CAME FROM YOUR OLD TOWN. É isso mesmo, quase que não cabia no cartaz o nome do quarteto, que conta com Felipe (guitarra/voz) e Waldemar (bateria), ambos ex-Bandini, na formação.

Ainda se apresentando pouco na cidade e prestes a lançar seu primeiro EP, as guitarras tomaram conta do lugar na melhor equalização da noite. O baterista clamou logo por seu retorno na primeira canção, o que é justo. Ajustado, o som aconteceu de primeira, com os riffs e acordes viajantes – um cruzamento de Artic Monkeys, The Perfect Disaster e Warlocks – só que desta vez já para poucos, mas fiéis, roqueiros que ainda restavam no lugar. A banda promete e está com vontade de tocar por aí. Aguardem mais shows vindouros.

Natal ainda Rocks. A coletânea foi lançada pelo selo Dia 32 em parceira com a Xubba e o Coletivo Noize. O Volume 3 já está engatilhado, o que denota a produção constante do cenário potiguar.

Por Alexandre Alves (dublê de guitarrista dos Automatics, dublê de jornalista e


sonâmbulo nas poucas horas vagas de sua vida rocker)

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Noite Noize 2: Lançamento Natal Rocks



ACONTECE nesta sexta-feira 23 de abril no Centro Cultural Dosol o lançamento da segunda edição da "Coletânea Natal Rocks", o som começa ás 22 horas com o rock indie do Blinders That Came From Your Old Town e segue noite a dentro com os já conhecidos do Distro, Calistoga, The Automatics e Bugs, a entrada é apenas 5 reais.
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HominisCanidaee - Entrevista Carlos Dias (Carlinhos)...

Seguindo a série de entrevistas que estamos fazendo sobre figuras do mundo da música que influenciaram ou influenciam boa parte das bandas e pessoas que acompanham o Hominis. Se alguem quiser sugerir entrevista, chega la no blog e manda na caixa de mensagem.

O Paulo Marcondes fez uma entrevista com o Carlinhos Dias, da Polara, Againe, Caxabaxa e diversos outros projetos que você encontra la no blog pra download...

Provavelmente você já ouviu alguma música de Carlos Dias (Carlinhos). Não? Againe, Polara, Albertinho dos Reys, Caxabaxa, Diluentes, Tube Screamers? Te
m certeza? Em uma entrevista feita por e-mail, ele falou sobre as bandas, o que curte da cena atual, projetos futuros, se againe e polara irão voltar um dia e etc. Saca só:

1) Quantas bandas você já teve? Eu consigo lembrar do: tube screamers, againe, polara, albertinho dos reys, caxabaxa, walter e reys...

Olha, a contar do primeiro show, ou desde que mudei pra sao paulo em 88? Se for desde criança já forma muitas... Spektro, que era de heavy metal,isso tipo 85, o Esquem em Poa essa época era bem precário, só festival de escola, festa de dia das mães essas coisas...Depois cortei o cabelo em 87 pra poder tocar numa banda de hardcore , isso em Poa ainda....Mudei pra São Paulo em 88, andando de skate na rua conheci uns caras que tinham uma banda que tirava uns covers de anthrax, metallica etc... Toquei com eles por um tempo também. A banda não tinha nome, chegamos a tocar em um dos festivais do colégio equipe e mais alguma coisa. Eles seguiram mais tocando um deth extremo e eu sai, pq minha pegada era mais crossover, metal punk, etc... E também outras coisas da época que curtia tipo alien sex fiend, as coisas da sub por que tocava no programa do Kid Vinil... Esqueci uma parada. Em 90, toquei em uma banda chamada megaforce,de thrash... E a banda em Poa se chamava ridiculamente os sexomaniacos, e era tipo punk nacional, tipo influenciado pela coletânea ataque frontal,vikings are comig e punk finlandes. Conheci uns outros caras e montamos o Tube Screamers,gostavam só de Dag Nasty, Descendents, Melvins,e aquela parada todo que rolava la por 91,92...

O Tube Screamers foi a primeira banda de fato, gravar fitinha com capa, viajar pra outros estados etc. Trilhando por um caminho difícil porque a única banda que tinha no começo mas parecida com a gente era o Pinheads de curitiba.. Éramos banda Irmã do Muzzarelas de campinas, que nos proporcionaram bons shows, boas amizades. Em 95, montamos ao Againe, com a saída do Rubens,seguimos abanda colocando o Cesinha lost e o Fernando na outra guitarra...Com o Againe ainda existindo precariamente montei o Polara junto com o Rafael Crespo e o Sato. No começo porque tinha bastante musica o Againe meio parado, por causa de compromissos dos outros.... Ai o Polara seguiu um tempo, mas sempre naquelas de que cada um morava num pico né? O rafa no rio eu aqui o sato em osasco, e o marinho aqui também, mas agente conseguia levar ate. Depois comecei agravar minhas coisas sozinho,o Caxabaxa foi um projeto com o Adriano e com o Bruno Galan... Tem também o Matheus Walter, com que eu toco quando vou pra porto alegre. Não tenho muita pretensão de montar banda,pelo menos com objetivos de cds, merchans, etc... Como me mudei pra floripa, sigo gravando minhas coisas, afinal musica faz parte de mim, ela acontece, e seguindo os conselhos do meu pai que era musico de não virar musico (risos).


2) De onde surgiu o nome Albertinho dos Reys?

Eh o meu nome. Mas naquela pegada de cantor que inventava um nome artístico e etc... Meu nome é Carlos Alberto dos Reis Dias.


Video Clipe - Albertinho dos Reys - Vacilo Teu


3) Da cena independente atual, você acha que da para tirar algo? Não só do hardcore, do rock em geral

Olha, não querendo citar nada, mas em geral o que eh feito com o coração, com vontade de verdade eu curto mais do que o bem feito ou o bem tocado. Acontece que a intenção hoje é bem diferente... Uma galera já pegou o caminho aberto e chega querendo sucesso de um dia pro outro.. normal, as vezes ate acontece, mas é uma coisa fugaz,talvez mais a ver com os tempos de hoje... O resolve “ah sou artista!” ou ate como ouvi de um cara uma vez... “po ta mais fácil viajar com arte do que montando banda”. Mesmo se da na arte, uma pá de “dizainerzinho” só porque tem uma mínima noção de preencher um espaço com algo meio legal se acha artista. O buraco eh mais embaixo... Na nossa época todo mundo tocava porque gostava sabe, sem quere desmerecer que vir ali e etc... Mas aquilo de fazer por amor que dava o toque que eu gostava se juntar fazer a parada, etc... Hoje em dia vem um Rick Bonadio e compra todas as bandas que ameaçam o sucesso da bola de vez. Deixando na mão os que estavam dando grana pra ele há pouco tempo... A banda nacional que eu acho mais legal é o ELMA.


4) Quem acompanha seus trabalhos há um certo tempo, pode notar que você se distanciou um pouco da música. Essa é a intenção mesmo? Focar nos seus outros trabalhos, como a arte?

O processo criativo é o mesmo, isso pra mim é uma necessidade, externar as o paradas que absorvo, seja em forma de musica, de arte, ou ate cozinhando se fosse o caso. A questão é conseguir sobreviver fazendo o que se gosta. Na a arte eu posso fazer o meu trabalho sem depender de ninguém, se eu tiver sozinho eu pego uma bic e saio desenhando, ou uma tela, o processo é mais solitário... Mas o mundinho próprio mesmo...A menos que seja um mural com varias pessoas... Talvez através da arte, através do aoseualcance, teve uma aceitação maior entre diferenciados tipo de pessoas, velhos, crianças, ricos pobres etc. Tem mais alcance, e também melhor retorno financeiro,afinal preciso pagar minhas contas.

Mudei pra Florianópolis tem dois anos e não toquei com ninguém lá, só sozinho hibernando no quarto. Ia lançar um disco no fim do ano passado, dois aliás, mas o cara que ia lançar deu pra trás pondo tudo a perder... Um disco de Albertinho dos Reys e um do Walter e Reys. Esse tipo de coisa da desanimo sabe? É coisa atrás de cosia a vida toda. Então optei por fazer eu minhas coisas, no tempo que der e pronto. Ou seja,estamos num momento de vários neo empresários, celulares e etc,existe essa facilidade hoje em dia nas comunicações que é inegável... É muito difícil voce se dedicar a algo tipo um disco, é um filho sabe,as musicas, a ordem e etc... Ai fica capengando o porquê nego que lança sei la o que, ou pra a fabrica musical.... Fica aquela coisa, o cara gosta, quer fazer pra quem gosta, mas na hora mesmo isso não é suficiente, e prefere dar preferência pra sub sei la o que! Então decidi por mim o que eu sempre fiz, tocar as coisas por mim mesmo, trampar, ganha grana, quando der com as minhas coisas, porque depende dos outros é complicado. O cara que eu mais confio nesse meio e acho firmeza é o Fred da submarine, e as coisas que ele lança, complementando sua pergunta de cima... Hurtmold, bodes e elefantes, as bandas dos meus amigos (risos).


5) O que você acha dessa coisa de download na cena independente do rock nacional?

Não entendi direito ,mas sou adepto, e também tudo que eu faço eu ponho pra download,em algum momento.


6) Uma coisa que sempre intrigou bastante os ouvintes do againe (principalmente no sem açúcar) e no Polara são as letras. Como elas eram escritas? Todo mundo que eu conheço e gosta das bandas, diz que elas são bem urbanas.

Olha, sou de porto alegre, sou praticamente um caipira na cidade grande. Essas letras a maioria, foram escritas em momentos refletindo isso, a minha visão da cidade. No caso do againe ja vinha desde antes essa temática. Nunca soube escrever letra de protesto, então queria uma coisa da cidade, dos relacionamentos, das amizades, etc. Hoje em dia que mudei pra praia, que começo a analisar isso tudo... Talvez daqui um tempo tenha mais a dizer, porque isso ai foi como se fosse uns vômitos, uns throw ups. Tipo escrevendo no ônibus, na casa dos outros, nos banheiros, sempre que lembrava algo,nem que fosse duas palavras, um expressão,ainda bem que tenho esses registros que dizem muito sobre mim....


7) Todos os fãs do againe e do Polara se sentem "órfãos". Há alguma possibilidade dessas bandas voltarem?

Sei la. Voltar não, um show ou outro talvez de tempos em tempos todo mundo fala...Mas se for isso é só uma reunião.


8) O que você anda escutando de música?

Depois do torrent e dos blogs e da net tudo mudou né? Antigamente pra você gostar de algo, tinha que compra o disco. Hoje em dia ta ali no itunes ou aonde for, e muita gente com vergonha do shuffle... Eu realmente tento ouvir de tudo, vivo por épocas, o de sempre, e o que nunca tive acesso... É isso.


9) Eu queria agradecer pela entrevista e pelo tempo cedido, de coração. Aquela hora clássica: shows, contato, divulgação...

Fiz um soundcloud do Albertinho, show não tem nada, ta saindo meu site www.aoseualcance.com, aonde pretendo por uma parte da musica juntando minhas coisas todas. Estou trabalhando num documentario da vida do meu pai que era musico tambem... A coisa mais massa que apareceu foi uma fita k7 de 68, que ta postada aqui.

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HominisCanidaee - Entrevista Jair Naves e EP Araguari...

Opa, foi mal a demora. Passamos por turbulências com o blogspot, mas estamos de volta com um "e" a mais, agora é HominisCanidaee e começamos com uma entrevista/resenha feita pelo Paulo Marcondes, um HominiCanidae nato.

Jair Naves é um músico (mesmo que ele não goste desse título, ou ao menos não gostava) e com esse EP mostrou uma evolução enorme em seu trabalho. Tanto no vocal (dessa vez, limpo, sem gritos e acompanhado por Júlia Frate, cantora) quanto em suas letras que estão de uma poesia enorma e com uma sonoridade bem diferente de tudo que todos esperavam. Algo calmo, mais fácil de se digerir do que o Ludovic (ex-banda do Jair) a qual comparações não serão feitas.
Se me pedirem pra classificar ou dar uma dica do que o som dele se parece, eu diria: "pega um pouco de Joy Division na época do Unknown Pleasures, de Dolores Duran, Walter Franco e Maysa. Agora mistura tudo, é, lembra um pouco." Como foi dito no post do Hominis: Não é rock. Não é folk. Não é samba. Não é moda de viola. É apenas o melhor letrista da atualidade em um projeto sincero e visceral.

Download do Ep: Jair Naves - Araguari EP (2010).rar

Demorou, mas segue agora uma entrevista com o próprio Jair Naves, falando sobre música, as dificuldade de um trabalho solo, sobre o mercado independente, sobre a vida, da maneira mais direta possivel...

1. No começo do EP, existe um pedaço do filme "O caso dos irmãos Naves" há algum parentesco com eles?
Essa é uma pergunta que sempre me fazem e eu nunca sei exatamente o que responder, já que eu mesmo continuo com essa dúvida. Pelo que eu consegui apurar, havia uma ligação da família de Sebastião e Joaquim (as vítimas do ocorrido) com o pessoal da minha avó paterna, mas afirmar que eles eram meus parentes seria meio abusado da minha parte. O que me fez mencionar a história deles na introdução do EP não foi só a ligação com a cidade e a coincidência (ou não) do sobrenome, mas também a intenção de prestar uma homenagem a eles e de trazer o caso para o conhecimento daqueles que se interessam pelo que eu faço.

2. Você com esse projeto conseguiu trabalhar de maneira diferente nas letras. Lembro de uma vez que li que tinha planos em se expor menos.Acha que conseguiu isso em Araguari?
Infelizmente não (risos). Quer dizer, tentei trabalhar melhor com metáforas e falar um pouco mais da vida de outras pessoas, coisa que eu não fazia muito antigamente. Por outro lado, tratei de assuntos íntimos muito abertamente, com uma transparência até maior do que eu costumava utilizar no passado.

3. Em Araguari II (meus dias de vândalo) existe um verso que diz "minha reza de ateu". O que é Deus para você?
Olha, você realmente pegou pesado nessa. Eu poderia ficar escrevendo durante horas e ainda assim não conseguiria definir o meu conceito de Deus. Eu tenho uma visão muito pessoal a esse respeito, uma teoria que eu formulei de acordo com as experiências que eu tive, as perdas que eu sofri, os rumos que pessoas próximas a mim deram às suas vidas e etc. Sobre a música em si, a estrofe em que esse verso se encontra é toda sobre desespero, esgotamento, falta de perspectiva, questionamento sobre o futuro e angústias dessa natureza. Quando eu usei essa imagem, quis passar a impressão de alguém que apela para o último dos recursos – a tal “reza de ateu”. Tem uma conotação religiosa, obviamente, mas não é exatamente sobre crer ou não na existência divina.

4. Como é sair de uma banda e ter um projeto solo? Digo, tomar conta de quase tudo sozinho?
Ainda estou estranhando um pouco. Passei metade da minha vida fazendo parte de bandas, é a primeira vez que trabalho assim, lançando discos sob o meu próprio nome. De qualquer forma, por enquanto eu não posso me queixar de nada. As pessoas estão gostando das músicas, os shows têm sido bons e a minha banda não poderia ser melhor. Tenho muita sorte por poder contar com esses músicos que tocam comigo, são pessoas em quem eu acredito muito e que abraçaram o trabalho com uma dedicação tão grande que chega a ser até comovente pra mim.

5. O que você considerou mais difícil neste ep? Compor, gravar, mixar, tentar desviar a ansiedade?
Tudo foi extremamente difícil, desafiador. Não só por eu ter trabalhado por conta própria na maior parte do tempo, mas também porque acho que nunca fui tão exigente comigo mesmo quanto dessa vez. Como eu não queria me repetir ou fazer aquilo que as pessoas esperavam de mim, levei muito tempo lapidando as músicas e letras. A gravação também foi complicada, tanto pela complexidade de alguns arranjos quanto pelo fato de eu ter introduzido muitos elementos com os quais eu ainda não estava muito habituado (sintetizadores, piano, muitos backing vocals, vozes femininas, samplers, etc). Na mixagem e masterização foi um pouco mais tranqüilo. Tive o privilégio de poder contar com o Renato Coppoli, um verdadeiro mestre do ofício, com quem aprendi muita coisa no pouco tempo que trabalhamos juntos. Quando já estava tudo pronto, tive que esperar um pouco para conseguir a liberação dos trechos de “O Caso dos Irmãos Naves” que foram utilizados em “Araguari I (Meus Amores Inconfessos)”. A ansiedade foi realmente enorme, eu não tinha idéia de como as pessoas iriam receber essas músicas, mas valeu a pena passar por tudo isso. Com toda a franqueza, acredito que esse é o meu melhor trabalho até o presente momento.

6. Onde foi parar a loucura do vocalista da Ludovic? Ela persistira ao vivo mesmo com um som considerado mais "calmo"?
Acho que foi parar nas músicas em si. Acredito que esse EP contém algumas das minhas composições mais ousadas, de estruturas menos óbvias, mais “experimentais” no sentido literal do termo. Sobre os shows, difícil dizer. Não tenho qualquer interesse em repetir coisas que eu fiz no passado, mas ao mesmo tempo eu tenho minha personalidade, meu jeito de fazer as coisas, características das quais eu não vou me livrar nunca, mesmo que eu queria. Cabe a vocês ir aos shows e tirar suas próprias conclusões, creio eu.


Video de Araguari II no show de Lançamento do EP na festa da Travolta Discos

7. Voce acredita que o público do Ludovic vai somar ao seu projeto solo? Pensou nisso quando fez o EP? Ou isso não faz parte do processo pra voce?

Nunca penso nisso enquanto componho. Acho muito perigosa essa preocupação com o que as pessoas vão pensar – aliás, não só perigosa, mas sem sentido. É impossível prever a quem você vai ou não agradar, então a única coisa que você pode fazer é ser sincero consigo mesmo, se esforçar ao máximo em todas as etapas e depois torcer pra que alguém mais goste do resultado. A recepção por parte dos fãs do Ludovic tem sido muito melhor do que eu esperava. Enquanto eu estava gravando o EP, me parecia algo tão diferente de tudo que eu fiz no passado que me dava a certeza de que muita gente iria torcer o nariz. Mas foi o contrário disso, a resposta que eu tive foi surpreendentemente positiva. Fico feliz com isso, me dá segurança para explorar novos caminhos no disco que a gente tá gravando atualmente.

8. Reza a lenda que você não é muito a favor do download gratuito. Isso mudou?Qual a sua posição sobre o assunto musica livre na internet e essas coisas?!

Hoje em dia você precisa se adaptar a essa condição, não tem jeito. A regra atual do jogo é essa, o perfil de quem consome música mudou completamente, é preciso achar maneiras de usar essa nova conjuntura a seu favor. Para mim continua parecendo um pouco estranho, uma vez que o público e o mercado exigem gravações de boa qualidade, o que evidentemente custa um bom dinheiro, mas nem sempre quer pagar por isso - o que, pelo menos para músicos independentes, não é um quadro nada animador. Mas é assim que funciona, então o negócio é focar no lado positivo da coisa, pensar nas alternativas possíveis e seguir em frente.

9. Quais os planos com o projeto solo?! Pensa em sair do gueto e rodar mais o país?! Fale o que quiser pra quem quiser...
Os planos são de tocar o máximo possível, com quem nos chamar, em qualquer palco que nos receber. Fora isso, estamos gravando atualmente um disco "cheio", que deverá ter de 10 a 12 músicas inéditas, cuja previsão de lançamento é ainda para 2010. Estou muito empolgado com essa nova fase, espero poder contar com o apoio daqueles que me conhecem de meus projetos passados. Fora isso, muito obrigado a vocês pelo espaço. Tomara que a gente se encontre por aí em breve.

Fotos: Patrícia Caggegi
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