quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O bonde dos coletivos culturais

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fonte: O inimigo
Por Hugo Morais - 24/12/2008


Coletivo. Pode se chamar de coletivo um agrupamento de pessoas com uma mesma orientação. No tempo que eu andava de ônibus diariamente, naquele que tinha o motor atrás e muitos vinham sentados sobre ele, nos referíamos a esse meio de transporte como coletivo. Que não deixa de ser um agrupamento de pessoas.

A idéia de juntar pessoas com afinidades, para produzir algo em comum, não é nova e vem sendo praticada por diversos grupos em Natal e no resto do país. Essa forma de trabalhar facilita todas as fases da cadeia produtiva e possibilita até um maior investimento e produzir de forma diversificada, se o grupo tiver influências variadas. Foi o que se viu na primeira ação do mais novo coletivo de Natal: Noize. A festa de lançamento do grupo contou com as bandas The Automatics, Bugs, Calistoga e Nuda, de Recife. Também teve projeção de vídeos e exposição de obras de Bruno, também conhecido como Bubu, vocalista do Dead Funny Days.

A diversidade que marcou a primeira ação também está presente no núcleo do grupo: Rafael Costa (Distro e Xubba Musik), Gustavo Macaco (Calistoga), Alexandre Alves (The Automatics e Dia 32) e Leandro Menezes (Lado [R]). Boa parte dos integrantes já trajando camisetas para criar a imagem do coletivo.

Rafael Costa explicou como deve trabalhar o grupo. “Nós iremos fazer festas bimestrais, palestras voltadas ao meio independente, workshops e zine impresso. Na verdade a gente quer fazer cultura como um todo, por isso o coletivo”.

Entre os que produzem música em Natal podem ser citados Xubba Musik e Coletivo Records. Ambos começaram como selos e passaram a produzir eventos. Para Fábio Rocha, do Coletivo Records, a produção atual não seria possível sem um meio muito importante: a internet. “É verdade que a idéia é antiga, mas só agora temos o recurso que precisamos, a ponta dos dedos e dos olhos. Hoje em dia quase todo mundo tem acesso a internet. E já dá para gravar a sua música no seu próprio computador. Isso facilitou muito todo o processo, além de lançar o seu trabalho para que todos possam ver, ainda da para ver o que está sendo produzido em todo o mundo. É uma troca. Basta querer fazer”.

O Coletivo Records já lançou a Coletânea Coletiva volume 01 e 02, o EP da Orquestra Boca Seca e singles de alguns artistas. Já a Xubba já lançou vários discos entre EP’s e álbuns.

Outras propostas e outras cidades

O Apartamento 101 é mais um grupo em atuação em Natal, porém mais voltado para moda e música eletrônica, também na forma de festa. Já foram organizadas duas edições da festa PUM! que lotaram o Galpão 29, na Ribeira. Sempre bem decoradas e com set lists que foram das músicas eletrônicas mais tocadas na atualidade, passando por Xuxa, Gretchen e até Balão Mágico.

Outro grupo que começou como produtor de festas e é mais antigo é o Lo Que Sea, formado por Juliana Fernandes, Layla Mendes, Michel Heberton, Rudá Almeida, Tiago Lopes e Marcelo Campelo. O pessoal investe em rock mais alternativo com discotecagens dos integrantes. Mas quem pensa que só de alegria vive quem produz esses eventos é bom pensar bem antes de fazer, Tiago Lopes mostra o que ganharam com os eventos: “Nada, a bem falar da verdade. Nem lucro, nem visibilidade. Só uma satisfação pessoal miserável em cada um dos integrantes no pós-festa, que dura o tempo de uma ressaca”.

O Lado [R] começou como zine e em pouco tempo estava produzindo festas e apoiando lançamento de discos, como o do Calistoga. O pessoal investe em cultura mais underground. De uns tempos para cá o zine tem crescido e o grupo encabeçado por Leandro Menezes, Rafael F. e Dimetrius Ferreira, tem feito trabalhos mais abrangentes, sem deixar de lado a boa diagramação, o humor cáustico e as influências que marcam o zine desde o início.

Uma das características dos coletivos é a troca de informações e até de fazer intercâmbios em cidades vizinhas. A festa que o Noize promoveu contou com a presença de integrantes do Lumo, coletivo de Recife, na forma da banda Nuda, onde alguns músicos fazem parte do grupo de produção recifense. O grupo já nasceu forte e atua de várias maneiras. “O Lumo atua fomentando cultura, através da gestão inteligente de recursos humanos e materiais, dentro da ótica solidária, para viabilizar projetos culturais. Assim, qualquer projeto cultural (gravação de cd, realização de shows, exposições, mostras fotográficas, etc) pode ter nosso apoio, desde a própria gestão do projeto ao suporte técnico/operacional necessário. Afinal, alguém tem que carregar caixas? Ajudamos nisso também”, explica Roberto Scalia, integrante do coletivo.

E se o Lo Que Sea ainda não colheu frutos, Scalia afirma que no Lumo é diferente: “A viabilização de se atuar na cultura (sendo músico, produtor, técnico de P.A, o que for) de forma sustentável, a educação pelo trabalho, ou seja, o crescimento profissional através das ações realizadas, a conquista de espaços e possibilidades de ações culturais antes impossíveis de serem realizadas. Mas o maior benefício, sem dúvida, é a realização existencial individual de cada um dos integrantes. Se o caboclo não se realizar existencialmente através do coletivo, não se manifestar plenamente enquanto indivíduo, ou o coletivo não está funcionando corretamente, ou o caboclo está no lugar errado. Palavras do mestre Paul Singer”.

Interessou? Cada um desses grupos possui uma ferramenta indispensável hoje em dia, o blog. Neles podem ser encontradas matérias, entrevistas, discos, vídeos, fotos e uma infinidade de atrações para envolver quem acessa o espaço em busca de informação. Clique nos links e conheça os coletivos.

Foto: Jomar Dantas/ Coletivo Noize

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