quinta-feira, 16 de julho de 2009

[Top 10] 10 Livros - por Alexandre Alves



(guitarrista, vocalista e letrista da guitar band THE AUTOMATICS, na ativa desde 2002 no cenário potiguar. Também tem um projeto paralelo de folk/alt-country chamado Deserto Lune. Ele também é formado em Letras (UFRN), já tem Mestrado em Literatura e está cursando Doutorado na mesma área)

Fazer uma pequena lista de dez livros sempre é complicado, pois reduzir os mais de 500 anos de impressão desde a invenção de Gutenberg, fora os anteriores desde a Grécia, faz com que muitos fiquem de fora. Preferi, então, concentrar-me nos mais modernos, que é minha preferência. Mas extrapolei o campo literário, já que para mim, quadrinhos e música são igualmente essenciais no retrato da humanidade.

1. “Histórias extraordinárias” – Edgar Allan Poe

Pra mim, o campeão da narrativa curta, não tem quem ganhe. Contos com “A queda da casa de Usher”, “William Wilson” e “O gato preto” prendem o leitor do início ao fim. Este norte-americano é mestre na arte de retratar o ser humano e de surpreender, que é o objetivo da boa literatura. Quem espera o óbvio que vá procurar livros de auto-ajuda, uma das grandes farsas atuais presentes na humanidade.

2. “O estrangeiro” – Albert Camus

Só fui ler este livro por causa da faixa “Killing an arab”, faixa de 1978 dos ingleses do The Cure. Todo mundo falava que era inspirado no livro do francês Camus e lá fui eu ler aos 15 anos esse romance pra lá de complexo. É a história de um cidadão que recebe um telegrama com os dizeres que sua mãe havia morrido e que, daí em diante, é só surpresa na narrativa lenta e detalhada que vai trazendo fatos inesperados e um final que até hoje fico imaginando o resto. Para quem tem estômago forte.

3. “Memórias sentimentais de João Miramar”– Oswald de Andrade

Esse pessoal fajuto que pensa que escreve em bom português em blogs e congêneres, que pensam que escrevem de forma moderna e fragmentada, não passa da segunda página do romance experimental de Oswald de Andrade, um dos cabeças do movimento modernista de 1922. A história é tão quebradiça – uma mistura de biografia, ficção, fragmentos de cartas, bilhetes, diários, entre outros – que só quem tem muita perspicácia consegue entender. Um dos livros mais subestimados da literatura brasileira, tanto que os próprios paulistas estudaram pouco a obra até hoje, talvez por ser complexa demais até para aqueles que se julgam na vanguarda cultural do país. Será?

4. “Rosa de pedra” – Zila Mamede

Não gosto nem um pouco de “O arado”, que muitos dizem ser a obra-prima da poetisa norte-rio-grandense e que, para mim, é muito redundante em sua temática bucólico-campesina, Prefiro os poemas desta obra, que apesar de estarem na forma de sonetos na maior parte, ultrapassam as limitações do formato ao tratar da memória, dos amores impossíveis, do tempo, da infância, do silêncio. Uma das grandes obras da poesia em língua portuguesa, lado a lado Drummond e Bandeira, não por sinal, admiradores de Zila, o que pouca gente sabe. Tanta gente procurando o “grande poeta” mundial e não sabem que ela pode estar ali ao lado.

5. Qualquer um – William Shakespeare

Sem comentários, leia qualquer uma dele, como “Otelo”, “Sonhos de uma noite de verão”, “Macbeth”, “A tempestade” ou uma com título bem rock’n’roll, “Muito barulho por nada”. Só em ter escrito aquelas frases que ficaram famosas – “Existem muitas coisas entre o céu e a terra”, “Há algo de poder no reino da...”, “olho por olho, dente por dente...” – já diz tudo, imagine se você estiver disposto a ler o resto. Shakespeare atua como psicológo de seus personagens, desvendando traumas e revelando aos poucos que ser humano só gosta de uma única coisa: poder. Para aqueles que tem preconceito contra o fato de ler peças, o britânico é fundamental para acabar com isso, de preferência no inglês original. Você só sabe se fala realmente a língua bretã se você conseguir ler Shakespeare. Caso contrário, você apenas pensa que entende inglês...

6. “Heart and soul: Joy Division” – Paul Morley / Jean Pierre Turmel / Jon Savage

Até que enfim chegando ao campo da música, este é o livreto em inglês que acompanha o único box-set do lendário quarteto de Manchester, fundamental para quem quer entender que a banda, na verdade, era de carne e osso. Declarações de todos os integrantes da banda, fotos exclusivas, além de completa discografia e sessões de estúdio. Você vai compreender que a banda vinha de um lugar pobre, traumático, todos sendo trabalhadores comuns que tinham um sonho de tocar em uma banda de rock, ensaiando religiosamente duas ou três vezes por semana, e que, ao contrário da suposta seriedade da banda nas imagens, os quatro eram piadistas de primeira, nada a ver com som melancólico e lento que marcou a geração post-punk. Góticos? Nunca, isto é preguiça de jornalista e fãs de primeira viagem.

7. “Designed by Peter Saville” – Vários autores

Essa é pra quem gosta de design e capas de disco, principalmente, uma arte enterrada pela indústria do cd, que transformou o antigo vinil – que a geração de 90 para cá desconhece o que seja – em uma miniatura. O designer britânico é o responsável pelas capas do selo Factory, que lançou New Order, Joy Division, Happy Mondays, Durutti Column, e que influenciou meio mundo na arte de fazer música independente, começando pelas capas. O livro é em papel couchê e boa história do pop britânico das décadas de 1970, 1980 e 1990 passaram pela mão de Peter Saville, incluindo cartazes e panfletos históricos. Hoje em dia, Saville declarou que a tal arte de se fazer capas de disco está morta, que a indústria acabou com ela. Triste declaração em tempos de “bobalização”, tomara que ele mude de ideia e prove que, quem vende mais, não é o melhor.

8. “V de vingança” – Alan Moore / David Lloyd

Poderia citar “O cavaleiro das trevas”, de Frank Miller, ou “Camelot 3000”, de Mike Barr e Brian Bolland, ou até “Watchmen”, do próprio Alan Moore, mas preferi citar esta história em quadrinhos para adultos, pois a narrativa cheia de flashback e inesperadas quebras entre os personagens deixa você curioso, imaginando como é que esses dois sujeitos imaginaram o enredo para o mundo de amanhã, com todos controlados por um governo manipulador, que na verdade, controla o caos. Essencial, já que a adaptação para o cinema perdeu muito no enredo e também nas cores. A história nos quadrinhos é em preto e branco.

9. “Rumo à estação Islândia” – Fabio Massari

Muita gente vai chiar comigo, só porque escolhi este livro do Massari, conhecido também como “Reverendo”, um exagero, já que normalmente alguns de seus textos não passam de colagens das páginas do myspace, vide a recente crítica na revista Rolling Stone nacional falando sobre a banda Lower Heaven (cheque você mesmo). Mas o tal escriba revelou ser uma pessoa extremamente hábil com as palavras quando quer. È o caso deste livro, que narra suas andanças pela longínqua Islândia, misturando geografia, historiografia, turismo, arte e muita, mas muita mesmo, música. Um país repleto de artistas que retratam como é viver em um lugar congelante e que tem o tal sol da meia-noite. Narrativa esquizofrênica, estilosa – cheia de metáforas – e altamente ilustrada, provando que há muito lá do que apenas os Sugarcubes, de onde veio a duende Bjork, por sinal, a única celebridade local não entrevistada, mas nem por isso o livro perdeu seu valor. Sinceramente, deu vontade de guardar as escassas economias e pegar vários aviões até chegar à Islândia. È longe demais! Viaje no livro...

10. “The giving tree” – Shel Silverstein

Em poucas páginas em preto e branco, o desenhista e escritor narra a história da amizade entre um menino e uma árvore, mas tal amizade vai ficando diferente com o passar do tempo. Um retrato cruel sobre o comportamento do ser humano narrado e visualizado em traços infantis. Li primeiro em inglês e, sinceramente, os olhos marejaram. Lembrei da minha infância, lembro do presente no qual arquitetos e engenheiros destroem, sem remorso algum, dezenas de árvores para construir prédios com janelas fantasmas, longe da realidade da rua, e penso no possível futuro que a natureza deu ao homem, mas que ele faz questão de acabar, aliás, a si mesmo. Há uma versão em português, mas não sei a editora.

1 comentários:

marcelo disse...

putz, "O gato preto", clássico.

hmm.. fiquei com trauma da zila mamede depois de ler "o arado" :/

alan moore.. v de vigança.. pô, apelou né? :D

17 de julho de 2009 às 07:25